8 Comments

Uau, que texto! É um debate que me interessa muito e sua perspectiva é muito estimulante. Me incomoda esse apagamento do animal em nós, acho que o caminho da mudança planetária de que precisamos vai na direção contrária em todas as dimensões da vida.

E fico remoendo uma impressão de que, ironicamente, muito mais que o ato de comer animais, aí está o verdadeiro especismo: nessa ideia de nós somos uma espécie tão mais evoluída que as demais que podemos simplesmente virar as costas para o animal que somos.

Só acrescentaria que o veganismo e vegetarianismo como propostas de transformação do mundo, mais que catequizadores, precisam vir acoplados a um compromisso radical com a luta anticapitalista (e antirracista, anti-imperialista, feminista), ou jamais deixarão a esfera do estilo de vida individual.

Expand full comment
author

Eu acho essa tensão entre o animal e o humano em nós muito interessante. Você tem um bom ponto: há uma posição especista que se deixa perceber justamente pela ideia de que podemos ser mais éticos do que os outros animais. Mas às vezes também tenho a impressão que a gente romantiza a natureza. O mundo natural, como descreveu Darwin, é o reino do mais forte. O menos adaptado morre para dar lugar ao mais adaptado. De certa forma, muito do que a gente faz culturalmente é tentar domar a natureza, não só a externa, mas os nossos instintos. A gente construiu sociedades em que os “menos adaptados” (que podem ser simplesmente, por exemplo, pessoas que precisam de óculos! Imagina um míope na natureza?) são capazes de sobreviver e ter proteção da comunidade. Os humanos geram problemas que não existem entre os outros animais (o racismo, que você mencionou), mas também aparentam ser a única espécie capaz de cogitar a reorganização em novas bases (o anticapitalismo que vc tb mencionou). Bjos e obrigada pelo papo!

Expand full comment

toda vez que leio seus textos fico pensando "que pessoa refinada". vc escreve bem demais!

Expand full comment
author

Ai, me senti muito sofisticada agora 💁🏼‍♀️ obrigada pela leitura!!

Expand full comment

Texto maravilhoso!

Expand full comment

Eu achei as suas reflexões muito boas! Eu também tinha muitas dessas inquietações que você trouxe, mas fiquei encantada quando conheci o veganismo popular, pelos vídeos da Sabrina Fernandes e do Chavoso da USP. Nessa perspectiva, o veganismo não é encarado como um estilo de vida, e sim um projeto ético-político de libertação animal, que foge muito dessa noção individualista e capitalista de consumo ético e de uma suposta "superioridade" e "pureza" moral. Recomendo demais. Assim como ocorre com o feminismo, existem muitos veganismos possíveis!

Expand full comment

Me considero vegetariana que ocasionalmente come alguma carne. No geral, passo as semanas comendo basicamente vegetais, seria uma especie de veganismo alimentar. Acredito que as questoes que voce trouxe são respondidas pela luta de acesso a alimentos, pela garantia da seguranca alimentar, pela valorização da agricultura familiar e pelo antiespecismo (prefiro essa palavra) que por sua vez anticapitalista e periférico e popular. Recomendo acompanhar o trabalho da Sandra, no blog papacapim. Vou ler a resposta da vanessa agora. 😘

Expand full comment

Many thoughts., which don't array themselves into any particular thesis. Food morality is inevitably individual and historical.

Meat has always had a tinge of religious and political proscription for me. When I was 5, my mother had us all baptized Catholic, although she had no religious background of her own. Her own mother had despised the Anglican religion in which which she was raised, while she romanticized her Scotts Catholic maternal line (I'm named for Mary MacGregor). I think my mom was trying to safeguard us from my paternal grandma, a Pentecostal Baptist.

So, at age 8, we took my daddy's modest life insurance settlement and went South to live with his destitute family, to share resources with his many younger siblings (as we all knew he would have wanted). Constant food insecurity, and periods of real hunger, were fundamental for us all, and that's what established my moral axis regarding food.

But these were secure times. Grandma fished avidly, we collected scallops, sometimes there were buckets of shrimp, we had protein. But it was on Friday that Grandma would fry her weaponized chicken. At the time it was a mortal sin for Catholics to eat meat on a Friday. My mom didn't eat it, but she didn't forbid us.

I ate the fried chicken, rightly concluding that the sacrament of confession would save me from eternal damnation. My grandma was right to a point ... she made me doubt the sanity of Catholicism, but alas it was already clear to me that Baptists were even more nuts. This was pure identity politics. There was no factory farming anywhere, and the chickens were humanely raised because it never occurred to anybody to abuse a chicken. I suspect the barbecue and beer is also identity politics.

The first real vegetarians I knew well were Hindu academic families, and their diet was important to the maintenance of their caste (and thus family) identity. One was Neeri, who ran a small family daycare in her apartment across the street from us in Brookline. She took care of Michael, my youngest, from 18 months till age 3. He adopted her food preferences, somehow. I finally figured out "pattys n taw" meant chapatis and sauce. I have no clue how she turned him vegetarian, but she was a REALLY good cook. There was no meat around her house, so how would he know she avoided it? But after a few chews he would take hamburger, hot dog, or chicken out of his mouth, put it on his plate, and thereafter refuse it. The aversion faded around the age of 5.

"Humanely raised" meat is readily available, and it seems obvious that people would choose it if they are able, and wanted meat. Poor families have to maximize protein per cost, though. I wish some crusader would establish some sustainable low-cost fast food.

Expand full comment